Uma equipe de astrônomos franceses estudou quase 500 cometas individuais que orbitam a estrela Beta Pictoris e descobriram que estes objetos pertencem a duas famílias distintas de exocometas: exocometas velhos que realizaram várias passagens próximas da estrela e exocometas mais jovens que se formaram provavelmente da recente destruição de um ou mais objetos maiores.
Beta Pictoris é uma estrela jovem situada a cerca de 63 anos-luz de distância do Sol. Tem apenas 20 milhões de anos de idade e encontra-se rodeada por um disco de material enorme — um sistema planetário jovem muito ativo onde o gás e a poeira são produzidos tanto pela evaporação de cometas como pela colisão de asteroides.
Durante quase 30 anos, os astrônomos observaram variações sutis na radiação emitida por Beta Pictoris, que se pensava serem ocasionadas pela passagem de cometas em frente da própria estrela. Os cometas são corpos pequenos — com alguns quilômetros de tamanho — ricos em gelo que se evapora quando o corpo se aproxima da estrela, produzindo enormes caudas de gás e poeira, que podem absorver radiação que passa através delas.
A fraca luz emitida pelos exocometas é ofuscada pela radiação da brilhante estrela e por isso não se conseguem obter imagens diretas destes objetos a partir da Terra. Para estudar os exocometas de Beta Pictoris, a equipe analisou mais de 1.000 observações obtidas entre 2003 e 2011 com o instrumento HARPS, montado no telescópio de 3,6 metros do ESO.
O trabalho revelou a presença de dois tipos distintos de famílias de exocometas: uma família de exocometas cujas suas órbitas são controladas por um planeta de grande massa e outra família, provavelmente originada pela destruição recente de um ou mais objetos maiores. Diferentes famílias de cometas existem igualmente no Sistema Solar.
Os exocometas da primeira família apresentam uma variedade de órbitas e mostram uma atividade relativamente fraca com baixas taxas de produção de gás e poeira, o que sugere que estes cometas gastaram seu conteúdo em gelo durante múltiplas passagens perto de Beta Pictoris.
Flavien Kiefer conclui: “Esta é a primeira vez que um estudo estatístico determina à física e órbitas de um grande número de exocometas”. “Este trabalho dá-nos um olhar fantástico sobre os mecanismos que estavam presentes no Sistema Solar logo após a sua formação, há cerca de 4,5 bilhões de anos atrás”.
Um planeta gigante, Beta Pictoris B, foi descoberto em órbita a cerca de um bilhão de quilômetros da estrela e estudado através de imagens de alta resolução obtidas com ótica adaptativa. Mais ainda, as órbitas destes cometas (excentricidade e orientação) são exatamente as previstas para cometas capturados em ressonância orbital com um planeta de massa elevada.
Esta sequência de vídeo baseia-se numa concepção artística de exocometas a orbitar a estrela Beta Pictoris. Astrônomos analisaram observações de quase 500 cometas individuais, obtidas com o instrumento HARPS, no Observatório de La Silla do ESO, e descobriram duas famílias distintas de exocometas em torno desta estrela jovem. A primeira consiste em exocometas velhos que realizaram várias passagens próximas da estrela. A segunda família, que mostramos nesta animação, consiste em exocometas mais jovens que se deslocam na mesma órbita e que se formaram provavelmente da recente destruição de um ou mais objetos maiores. Crédito: © ESO/L. Calçada/N. Risinger (skysurvey.org)
Artigo científico:
‣ Fonte: European Southern Observatory (ESO)